Histórias de desejos por certos alimentos não muito convencionais durante a gravidez, embora engraçadas, podem denunciar a presença de um distúrbio alimentar chamado síndrome de pica. O nome vem do latim e significa “pega”, um pássaro do Hemisfério Norte, conhecido por comer quase tudo que encontra pela frente. O distúrbio é muito raro entre homens e crianças, mas muito comuns nas grávidas.

Caracterizada pelo apetite incontrolável de comer substâncias não comestíveis, a síndrome de pica ou alotriofagia não possui uma causa definida. De acordo com Breno Rosostolato, professor de psicologia da Faculdade de Santa Marcelina, em São Paulo, a desnutrição proteico-calórica, caracterizada por deficiência de ferro, iodo, vitamina A e folato (vitamina responsável pelo DNA e formação celular) no organismo das futuras mamães, pode ser o principal fator para o aparecimento do problema.

– Como têm carência desses nutrientes, o corpo, para suprir essa ausência, leva a mulher, por uma associação inconsciente, a direcionar a vontade para esses inusitados “alimentos”. Outro aspecto relevante para o aparecimento da síndrome seria a condição aliviadora trazida por náuseas e vômitos após a ingestão das substâncias. O que se observa também é que a prática do picadismo é sustentada por costumes e tradições, como se fosse algo “normal” do período gestacional.

Entre as práticas ligadas ao picadismo está a geofagia (ato de ingerir substâncias terrestres como barro, terra e argila), a amilofagia (ato de comer amido), a pagofagia (ingestão de gelo), a cautopireiofagia (ato de ingerir fósforos queimados), a coniofagia (comer pó) e hialofagia (ingerir vidro). Outras substâncias que podem ser ingeridas por quem possui o distúrbio alimentar são giz, pedra, sabão, carvão, fuligem, papel, tabletes de antiácidos, leite de magnésia, bicarbonato de sódio, borras de café e batata crua.

A pica pode levar a agravantes médicos, como intoxicações, prisão de ventre, hemorragia intestinal grave, dores abdominais, diarreias, má absorção e perfurações intestinais, anemias, perda de peso e até uma alteração patológica do encéfalo.
Ainda de acordo com o professor, o tratamento da síndrome pode englobar uma série de medidas: “Vai desde medicamentos, uso de vitaminas e complementos de minerais. A psicoterapia é uma medida eficaz, principalmente se o distúrbio alimentar fomentar um estado depressivo na pessoa”, finaliza o especialista.

Fonte: Breno Rosostolato

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