Quando os filhos nascem, especialmente o primeiro, é normal que os pais queiram abraçar o mundo. E isso vale também para os milhões de passeios e atividades a que geralmente os adultos querem expor as crianças, nem sempre da maneira mais adequada.
Para entendermos melhor essa questão, conversamos com duas experts no assunto, Jéssica A. Fogaça, psicóloga infantil comportamental e arte educadora, e Renata Soifer Kraiser, mestre em psicologia clínica pela PUC-SP.
Entrevistas
KIDS in. A partir de que idade é importante inserir atividades de arte e cultura na vida da criança?
Jéssica Fogaça. Desde sempre! A partir de um aninho já é possível, inclusive, detectar quais são os materiais que as crianças mais gostam, como massinhas, desenho e por aí vai.
Renata Kraiser. O ideal é que as atividades façam parte da vida da criança como algo natural. Não há contra-indicação, a não ser que não tenha relação com o mundo infantil.
K. Quais são os principais benefícios de inserir arte e cultura na vida da criança desde cedo?
JF. Dependendo da atividade, é possível conseguir o desenvolvimento da habilidade motora fina, lateralidade e noção de espaço. Do lado emocional e psicológico, permite que a criança use a criatividade, explore seus desejos, ajuda nos relacionamentos interpessoais. A arte dá a possibilidade de usar outros meios de se comunicar.
RK. Estimular as capacidades neurocognitivas e a ampliar o repertório intelectual da criança.
K. Como essas atividades podem influenciar no futuro das crianças?
JF. Em geral, crianças que praticam bastante atividades de arte e cultura tornam-se adultos mais comunicativos, que entendem melhor o que sentem, se colocam na posição do outro e são mais tolerantes com as diferenças.
RK. Quanto maior for a riqueza (e não a quantidade) de estímulos e oportunidades, melhor. Porém é preciso tomar cuidado com a hiper estimulação que gera estresse. Afinal, criança também precisa brincar livremente.
K. Quem não tem acesso a cinemas, teatros, shows, como pode inserir os filhos nesse mundo de arte e cultura?
JF. Através de livros infantis, principalmente. Existem milhões de bibliotecas maravilhosas com títulos infantis, casas culturais que têm disponibilidade cultural muito grande e com preço muito acessível.
RK. O site “Catraca Livre” tem muitas dicas de diversão com cultura gratuitamente ou a preços bem acessíveis.
K. Quando a criança simplesmente não se interessa por nada, é um alerta para procurar um especialista? O que pode estar havendo com ela? Isso é comum acontecer?
JF. Não é comum, principalmente pelas atividades artísticas. Nesse caso, aconselho a procurar um psicólogo infantil, de preferência. Ela pode estar com alguma dificuldade que não consegue verbalizar.
RK. Não existe criança que não se interessa por nada. A não ser que esteja deprimida ou com algum problema que se manifesta sobre a forma de desinteresse. Cabe aos pais estimularem a curiosidade dessa criança.
K. Muitas atividades na agenda dos pequenos podem prejudicar sua infância?
JF. Pode, pois ela começa a não dar conta e se frustra.
RK. Sim, porque elas também precisam de tempo para simplesmente serem criança.
K. É importante respeitar a rotina das crianças mesmo quando o assunto é arte e cultura, brincadeiras, etc?
JF. Sim. Criança cansada não aproveita nenhuma atividade. Muitas vezes o que pode parecer falta de interesse é apenas necessidade de soneca.
RK. A rotina é prioridade absoluta! Não segui-la pode prejudicar todo o organismo, bagunçar o relógio biológico, etc.
K. Qual a melhor idade para inserir as atividades de rotina, com aulas semanais e compromissos?
JF. A partir dos quatro ou cinco anos e é muito importante que os pais assistam de vez em quando, reconheçam o progresso de uma dança, por exemplo. Faz toda a diferença.
RK. Não recomento mais que uma atividade até os 5 anos. Depois disso, duas atividades, além da escola, é o máximo que uma criança pode incluir na sua agenda.
K. Existe algum tipo de brincadeira mais indicado para cada faixa etária ou é livre?
JF. Se usar a criatividade, vale tudo, inclusive as brincadeiras mais antigas. Para crianças pequenas eu aconselho brincar com materiais diferentes, para terem contato. Para as maiores, a partir dos nove anos, atividades que exijam cooperação do outro como jogos de tabuleiro, jogos em dupla ou equipe, com missões a serem cumpridas, ou seja, atividades onde ela não tem como ganhar sempre.
RK. A melhor brincadeira é aquela em que a criança de diverte, estimula sua fantasia, suas aptidões e diferentes habilidades. Precisamos apenas estar atentos aos vícios, como vídeo game e computadores.
Dicas para pais de filhos tímidos
Para as crianças tímidas indicamos o teatro, por ser uma arte coletiva, ela está protegida por máscaras, fantasia, isso ajuda. Diferente da dança, em que se ela errar todo mundo vai perceber porque o movimento vai destoar do resto do grupo. Pintura não indicamos, nesse caso, porque é atividade solitária.
Você precisa fazer o login para publicar um comentário.