Normalmente, se um dos pais sai para escolher um presente para a filha, pensa logo em uma boneca ou uma casinha. E para os meninos? Carrinhos, pecinhas para construir ou uma fantasia de Batman, com direito a todos os apetrechos. Mas e se a menina preferir o carrinho e o menino a boneca? Será que isso ainda causa estranheza em alguém?

Sim, ainda causa. Para os mais conservadores, menina brinca “com brinquedo de menina e menino com brinquedo de menino”, mesmo que essa ideia já esteja para lá de ultrapassada. Sabe por quê? Porque, em primeiro lugar, quem acha que um determinado brinquedo é para menino ou para menina é o adulto. Isso mesmo, de acordo com Maria Angela Barbato Carneiro, professora de Pedagogia e Coordenadora do Núcleo de Cultura e Pesquisas do Brincar da PUC – SP, para uma menina, um carrinho é apenas um carrinho e tudo o que ela quer é brincar:

– As crianças sempre brincaram e os brinquedos foram feitos para que pudessem se integrar na cultura do grupo. Até o final do século passado, havia brinquedos considerados especificamente para meninas e outros para meninos, de acordo com os papéis sociais que homens e mulheres desempenhavam na sociedade. Porém, com as transformações na contemporaneidade nas funções do homem e da mulher é preciso repensar o uso dos brinquedos.

Já faz algum tempo que a maioria das mulheres trabalha fora de casa, assumindo profissões que antes eram apenas masculinas, além de ter mais controle sobre a própria vida, algo impensável décadas atrás. Quanto aos homens, muitos passaram a assumir o controle da casa, cuidar dos filhos e cozinhar. E por conta dessa mudança no perfil homem versus mulher, na opinião de Barbato, não faz sentido separar brinquedos por gênero:

– É importante frisar a importância do “livre brincar”. Proibir significa, entre outras coisas, impedir a criança de descobrir e, acima de tudo, de refletir. A proibição também pode gerar preconceito, impedindo que experimentem papéis e os representem, na brincadeira simbólica, como uma tentativa de solucionar problemas e até mesmo fazer descobertas interessantes.

E essa representação de papéis nas brincadeiras é uma imitação das ações que as crianças presenciam no cotidiano e nada tem a ver com orientação sexual, uma das preocupações de alguns pais. “Um menino que gosta de brincar de boneca, por exemplo, o faz porque vê o pai ou um irmão mais velho cuidando de um irmão menor. Ele não está fazendo o papel de mãe, mas o de pai ou irmão que toma conta dos menores. O papel que ele está representando é masculino”, explica Maria Angela Barbato.

Diante disso, mais importante do que classificar os objetos por gênero é observar como as crianças utilizam os brinquedos e quais os papéis que desempenham durante a brincadeira. É importante que os pais não se intrometam, mas que observem primeiro e sugiram e reflitam com os filhos depois. “A criança precisa ter liberdade para escolher o seu brinquedo. Os pais devem apenas ficar atentos se o brinquedo é adequado à etapa de desenvolvimento do filho, ao espaço disponível em casa para a brincadeira, e ao preço. Há um apelo muito grande ao consumo e isso sim deve ser levado em conta pelos pais. Não brincamos somente com objetos, mas com o corpo, nas relações sociais, no contato com a natureza. O brinquedo é apenas mais um estímulo”, conclui Barbato.

Uma marca que está alinhada com a filosofia de uma escolha mais livre dos brinquedos pelas crianças é a “GoldieBlox”, cuja filosofia prega que as meninas podem ser muito mais do que “princesas”. Com verdadeiros kits de construção em mãos, as garotas têm estimulado o raciocínio lógico e as habilidades espaciais para, ao final da brincadeira, projetar o próprio brinquedo.

A fundadora da marca, Debbie Sterling, é uma engenheira que estava cansada de ouvir as pessoas dizendo que a sua profissão era para homens, e criou a “GoldieBlox” para mostrar às meninas que elas também podem se dar bem em engenharia. Boa dica, não é?

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